♪ Guerreiros! Guerreiros! Guerreiros! Time de Guerreiros! ♫
Fluminense Football Club

Tetracampo Brasileiro
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terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

luar

Não achei que fosse mais voltar aqui... e voltei.
A letra a me trouxe.
De emoção em emoção, desafio, ilusão, luto, medo, prazer, saudade, tristeza, verdade. Girei o alfabeto. E foi como se tivesse feito a rotação no planeta-Eu: os sentimentos vieram e foram, mas permaneço no mesmo lugar.
Minha primeira vontade, pois, era correr. Para longe. Para perto do que gostaria de ser, ver e ter.
Só que uma lua ascendeu, redonda e magnética. E aí, eu decidi correr para ela.
Corri por dias, por meses, corri incessantemente, sem descanso. Mas hoje, quando corri, pareceu que eu havia deixado algo pelo caminho...
Encontrei a aliança e meus votos de casamento no bolso. Mas tudo isso pareceu vazio e sem brilho.
A lua emergiu como sempre, do jeito dela, no horário marcado.
Dessa vez ela alumiou longe de mim. E eu não corri em sua direção. A lua, porém, tão imensa e habituada aos sons dos meus passos, nem notou o meu não.



um beijo, um abraço ou aperto de mão, Babi

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Skyscraper

Não precisei bater um longo papo com Heráclito... A própria vida encarregou-se de mostrar que as coisas mudam nas águas caudalosas dos acontecimentos. Mais do que as ondas do mar, que vão e vêm; é a montanha russa, gigantesca, a maior do mundo, com seus altos e baixos! Mais altos que baixos, em alguns momentos... Certos baixos que são sorrateiros, subterrâneos.
Há uma vida não escrevo aqui. E nem tenho certeza de que quero escrever na vida que estou vivendo, tampouco descrever a vida que vou levando. Mantenho-me sob controle – nem bem nem correndo nua por aí – na medida do possível.
É como se outra pessoa recebesse a senha dessa blog junto a um bilhete: "toma, administra aí! este blog agora é seu, continue de hoje", tamanho estranhamento. Beira o engraçado e o esquizofrênico, ao mesmo tempo. 
E o Tempo, sobre o qual jogam a responsabilidade de ser o senhor de todas as coisas, parece passar por mim na velocidade burlesca! 
Houve tempo em que eu achei o máximo nascer para ser um BondGirl®... Hoje, meu (semi)feminismo amadurecido me provoca náuseas ao imaginar essa imagem. Hoje, no mínimo, Marvel's Agent Carter.
Antes não tinha convicção sobre a maternidade, podia ser que sim, mas também podia ser que não. Hoje, sou mãe da minha mãe e de filhotes que já estão por aí ou no cosmos.
Eu conhecia o racismo apenas nos livros.
Erro como sempre, embora, hoje, pareça haver menos resiliência para desenvergar a cada paulada.
Sinto medo das mesmas coisas e de novas, e em quantidade crescente.
Antes, eu poderia abraçar o meu pai quando levantasse da cadeira e desligasse o computador. Agora ele é a minha saudade. E isso faz toda a diferença.


sábado, 1 de junho de 2013

Não devia... NÃO DEVO.

"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.


A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma".



Fonte: livro 'Eu sei, mas não devia' (esgotado)

Autora: Marina Colassanti
Editora: Rocco

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Bem por aí


É melhor ser feliz do que ter razão.

Será? 

Anacrônica beleza

A TV que tanto amo nunca foi dos meus temas mais constantes. Vai entender!

Talvez, por isso, tenha demorado tanto tempo para descrever algo tão tocante e emocionante pra mim quanto a novela Lado a Lado.

Não tem só aquele lindo do Lárazo Ramos, o talento do Thiago Fragoso, o xodó com a Marjorie Estiano, as interpretações de Patricia Pillar e Milton Gonçalves, ou a belezura da Camila Pitanga. A novela é bela, delicada, instigante, comovente. 

A relevância histórica, as idiossincrasias de um momento de transição, o novo (República e abolição) e o velho (Império e escravidão) em disputa cotidiana; enquanto se inventavam as nossas tradições: o futebol, o morro, o samba e o progressismo até a página 2.

Tudo isso ao som trilha sonora eclética e impactante - aimeudeus... o que são as cenas de Milton Gonçalves e Camila ao som de "O mundo é um moinho" interpretada por Beth Carvalho? Não há uma única vez em que eu não tenha chorado!

A abertura é sublime.


Além disso, a beleza da construção do papel do negro pós-abolição, a busca da mulher pelo seu lugar de fala e a luta ad infinitum contra o racismo estão ali, a cada capítulo. Capítulos bem tratados, bem escritos e dirigidos.

Se não são, tudo isso, motivos suficientes para me apaixonar como me apaixonei... é coisa de pele.

É uma pena, enfim, que já esteja acabando. Mas como toda novela, admito, tem horas que fica chata... *risos*

Um beijo, um abraço ou aperto de mão,
Babi

domingo, 24 de fevereiro de 2013

½ pop... ½ mainstream... 1 Babi

♪Perdida
Na avenida
Canta seu enredo
Fora do carnaval
Perdeu a saia
Perdeu o emprego
Desfila natural

Esquinas
Mil buzinas
Imagina orquestras
Samba no chafariz
Viva a folia
A dor não presta
Felicidade, sim

Dom, 24.02.2013 - 14 horas


O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas



Bambeia
Cambaleia
É dura na queda
Custa a cair em si
Largou família
Bebeu veneno
E vai morrer de rir

Vagueia
Devaneia
Já apanhou à beça
Mas para quem sabe olhar
A flor também é
Ferida aberta
E não se vê chorar♫


Dura na Queda - Chico Buarque


domingo, 17 de fevereiro de 2013

Cozinha é casa

Natal não conta, pois é impossível fugir — e querer fugir — de rabanadas, carne de porco (costela com barbecue e batatas noisettes, no último ano), farofa e docinhos deliciosos...

Mas desde a pizza caseira e cupcakes que terminaram no lixo e no vômito, eu não ia a cozinha exercitar minhas habilidades culinárias... Para criar uma receita então, nem-pen-sar! Mas um domingo e uma TPM daquelas tudo curam. *risos*

Em homenagem, o bloguito inaugura uma nova sessão: Na Mesa, com meu menu restrito e delicioso. E, de vez em quando, até, quem sabe, umas coisinhas saborosas que a vida me servir.

 Torta Suíça



O post de estreia sugere, então, que se guarde 10 gemas na geladeira; elas podem servir para pincelar diversos empadões e empadinhas ou virar um belo e amarelo quindim. Pois as claras são batidas em velocidade baixa na batedeira, com uma pitadinha de sal  pra ficarem bem firmes —, até quase extrapolarem da vasilha.

Enquanto isso, ou antes disso, penere ¾ de xícara+ 1 colher de sobremesa de açúcar, 1 xícara+2 colheres de sopa de chocolate (melhor que seja o que tem os frades na caixinha! *risos*) e 2 colheres, uma de chá e outra de sobremesa, de farinha de trigo.

Com muita calma, delicadeza e um fouet, junte os pózinhos misturados e peneirados às gigantes claras em neve. A ideia é mexer até que fique marronzinho, nada de bater demais — não se trata de um bolo normal!

Essa massa marronzinha será depositada em duas formas com papel manteiga and  manteiga. Untar com manteiga e farinha vai deixar a massa esbranquiçada, o que não ajuda no visual craquelado e rústico dessa delicia. Depois, forno pré-aquecido entre 180º e 200º graus.

Ah, o ponto: casquinha crocante e craquelada, úmida por dentro... Hum!

O recheio é uma generosa e saborosa porção de chantly. Pode ser caseiro, claro (só levar à batedeira 500g de creme de leite fresco e bem gelado e 50g de açúcar em ritmo frenético). Porém, acho que as opções semi-prontas dão conta do recado.

Como miséria é bobagem, a cobertura é um ganache. Aposto num mix de 150g de chocolate amargo e ao leite derretido numa caixinha de creme de leite — salivando...   

Temos, assim, uma deliciosa Torta Suíça. Que, com os toques da casa, claro, é retangular. hehehe!




Voilà!
Babi

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Notinhas

Querendo colo.
Com vontade do mar e necessidade de olhar o céu.
Escutar boa música devorando um pote de sorvete infinito.
Ficar parada sob o chuvisco, semi-protegida por um abraço forte.
Deitar na rede, sacudindo de levinho, com direito a um monte de beijos no umbigo. 
Dormir quieta, um sono sem sonhos, no aconchego da tranquilidade anterior e da esperança no amanhecer.

sábado, 5 de janeiro de 2013

É + ou - isso...

ESTE É UM país sui generis.
As putas gozam
Os cafifas se apaixonam
Os valentões apanham
Os ministros cantam e
As ministras dão.
Os machões também.
Os ladrões prendem
A polícia assalta
Os patrões fazem greve
Os ateus rezam
Os padres praguejam
Os catedráticos não lêem
Os analfabetos escrevem
Os banqueiros choram
Os mendigos dão esmola
Os gatos latem
Os cachorros miam
Os peixes se afogam
As frutas mordem
As formigas dão leite
As vacas põem ovos
As galinhas têm dentes

Então,
Quer parar
De me cobrar
Coerência
Pô!

SUI GENERIS - Mano Melo (O Lavrador de Palavras, 1999)


segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Tempo de plantar, tempo de colher

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, 
a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. 
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. 
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. 
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente. 

CORTAR O TEMPO



2013, Seu Lindo!
Babi

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Virando a página...

Umas vezes é mais difícil que outras... Algumas vezes dá mais preguiça... Noutras, as feridas parecem que nunca vão parar de sangrar... Mas a vida sempre encontra um jeito de prosseguir, as dores sempre são amenizadas — ainda que não sarem por completo. O tempo, senhor da cura, tem um ritmo muito particular, mas uma hora as dificuldades começam a deixar de ser empecilhos.

Não é simples. Nunca foi. E ninguém, jamais, disse que seria. Saudade e simples assim são duas expressões de enorme complexidade, que guardam em comum apenas o S em seus inícios... E vida que segue. E se não, oras... façamos como se diz em Nova York: "Supere isso e, se não puder superar, supere o vício de falar a respeito".

Recebi uma mãozinha para pensar sobre isso... Literalmente.



"Rio de Janeiro, 27 de novembro 2012
Meu nome é Andressa Santos tenho 4 anos e estudo no Brizolinha 
gostaria de ganhar no Natal uma boneca"


Meus problemas todos tão gigantes, você tão distante e tudo o mais ficaram tão menores diante dessa mãozinha esquerda. Ainda tenho tanto... A vida ainda tem tantas possibilidades... Para que viver o vício de ficar remoendo o passado? 

O mundo das gentes grandes pode ser bem difícil às vezes — ô, se é! —, mas a simplicidade dos dilemas infantis também despedaçam a alma...



A boneca, se não resolve meus problemas ou todas as questões mundanas, acalma meu coraçãozinho sobremaneira. E, hoje, futuro incerto, isso já me basta.



um beijo, um abraço ou aperto de mão, 
Babi

terça-feira, 27 de novembro de 2012

E não entrou na roda...


"João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos. Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história". 


 




quarta-feira, 21 de novembro de 2012

INFERNO ASTRAL


Uma princesa babaca, estúpida, idiota, imbecil, palerma, burra, lesada... mas, ainda assim, algo me diz que não fui eu quem perdeu mais nessa estória.

domingo, 18 de novembro de 2012

FinalMente

O interesse diminuiu conforme o desfecho foi se aproximando... mas, ainda assim, não dava pra perder "A Saga Crepúsculo: Amanhecer - parte 2" (the Twilight saga: breaking dawn Pt. 2. EUA, 2012, Bill Condon, 115 min.).

O filme foi ruim, exatamente como eu esperava; bom, do jeito que os fãs da série esperavam; e minimamente emocionante, como todo fim de saga deve ser... 


Pensei, ao fim da sessão, três coisas sobre a Saga. Os livros — que não são ruins — se bem roteirizados e dirigidos darão bons reboots, a saga tem futuro. Os personagens (e seus intérpretes) tornaram-se maiores que os diálogos e a própria história, o que é uma pena, pois os atores não amadureceram. E as melhores cenas dos quatro filmes, o confronto entre o clã Cullen e os Volturi (SPOILER), foram uma mentira.

Alívio enfim, fim.

um beijo, um abraço ou aperto de mão,
Babi

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Fornicating Under Consent of the King

Hoje, na minha primeira reunião como representante discente do doutorado, eu pude compreender como minha saída do IRI não só foi possível, mas perfeitamente "normal". 

A "sociedade de corte acadêmica" tem tanta vaidade, tanto legalismo vazio, tanta incapacidade de articular um pensamento sensato e que leve em consideração o bem-estar dos alunos e dos próprios colegas — quando falham.
Quase consegui visualizar a cena... aquela reunião... os argumentos... a deliberação... a votação... as abstenções. A vontade de foder (reza a lenda, FUCK vem de "Fornicating Under Consent of the King", abreviação da política inglesa de estímulo à natalidade por volta de 1475); uma fodida pura e simples. Demonstração de poder. Aff...
Mas não senti ódio, nem nada. Só entendi.

domingo, 14 de outubro de 2012

ARE YOU READY?!




Sem blá-blá-blá: tradição é tradição!

Como sempre, lista de presentes já saindo desfalcada. Então, "run, Forest, run!" *risos*

um beijo, um brigadeiro e um bolo de chocolate, 
Babi

New Dad


Acordei querendo ser filha do Willy Wonka.

TPM feelings...


terça-feira, 2 de outubro de 2012

Heterônima

    Não sou nada.
    Nunca serei nada.
    Não posso querer ser nada.
    À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

    Janelas do meu quarto,
    Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
    (E se soubessem quem é, o que saberiam?),
    Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
    Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
    Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
    Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
    Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
    Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

    Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
    Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
    E não tivesse mais irmandade com as coisas
    Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
    A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
    De dentro da minha cabeça,
    E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

    Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
    Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
    À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
    E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

    Falhei em tudo.
    Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
    A aprendizagem que me deram,
    Desci dela pela janela das traseiras da casa.
    Fui até ao campo com grandes propósitos.
    Mas lá encontrei só ervas e árvores,
    E quando havia gente era igual à outra.
    Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

    Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
    Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
    E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
    Gênio? Neste momento
    Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
    E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
    Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
    Não, não creio em mim.
    Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
    Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
    Não, nem em mim...
    Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
    Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
    Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
    Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
    E quem sabe se realizáveis,
    Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
    O mundo é para quem nasce para o conquistar
    E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
    Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
    Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
    Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
    Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
    Ainda que não more nela;
    Serei sempre o que não nasceu para isso;
    Serei sempre só o que tinha qualidades;
    Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
    E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
    E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
    Crer em mim? Não, nem em nada.
    Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
    O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
    E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
    Escravos cardíacos das estrelas,
    Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
    Mas acordamos e ele é opaco,
    Levantamo-nos e ele é alheio,
    Saímos de casa e ele é a terra inteira,
    Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

    (Come chocolates, pequena;
    Come chocolates!
    Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
    Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
    Come, pequena suja, come!
    Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
    Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
    Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

    Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
    A caligrafia rápida destes versos,
    Pórtico partido para o Impossível.
    Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
    Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
    A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
    E fico em casa sem camisa.

    (Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
    Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
    Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
    Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
    Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
    Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
    Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
    Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
    Meu coração é um balde despejado.
    Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
    A mim mesmo e não encontro nada.
    Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
    Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
    Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
    Vejo os cães que também existem,
    E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
    E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

    Vivi, estudei, amei e até cri,
    E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
    Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
    E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
    (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
    Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
    E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.

    Fiz de mim o que não soube
    E o que podia fazer de mim não o fiz.
    O dominó que vesti era errado.
    Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
    Quando quis tirar a máscara,
    Estava pegada à cara.
    Quando a tirei e me vi ao espelho,
    Já tinha envelhecido.
    Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
    Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
    Como um cão tolerado pela gerência
    Por ser inofensivo
    E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

    Essência musical dos meus versos inúteis,
    Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
    E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
    Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
    Como um tapete em que um bêbado tropeça
    Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

    Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
    Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
    E com o desconforto da alma mal-entendendo.
    Ele morrerá e eu morrerei.
    Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
    A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
    Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
    E a língua em que foram escritos os versos.
    Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
    Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
    Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

    Sempre uma coisa defronte da outra,
    Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
    Sempre o impossível tão estúpido como o real,
    Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
    Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

    Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
    E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
    Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
    E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

    Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
    E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
    Sigo o fumo como uma rota própria,
    E gozo, num momento sensitivo e competente,
    A libertação de todas as especulações
    E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

    Depois deito-me para trás na cadeira
    E continuo fumando.
    Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

    (Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
    Talvez fosse feliz.)
    Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
    O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
    Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
    (O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
    Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
    Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
    Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

TABACARIA

Alvaro de Campos (15 de jan. 1928)



Seja bem-vindo, Outubro.

sábado, 29 de setembro de 2012

♪ Todo mundo espera alguma coisa de um sábado a noite ♫

Resumo do dia: trabalhei, trabalhei, trabalhei. Não resisti a um sorvete, nem a umas comprinhas pra alegrar... E ganhei uma recaída de gripe, a garganta está em chamas. Que bela noite de sábado eu ganhei...



quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Amizades verdadeiras são como diamantes.





Uma década.
Da praça de alimentação do Rio Sul para noites de Jazz e bom vinho na Bresserie Rosário.
Darwin estava certo, baby... Evolution. *risos*



Eternas.

sábado, 22 de setembro de 2012

not so easy


"Desistir... eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério; é que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos, do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça."

Cora Coralina (1889-1985)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Ainda que eu muito tentasse, não escreveria melhor




O Rio rebelde

Daniel Aarão Reis
O Globo - 18/09/2012



Sobre a educação, o diagnóstico é preciso: "As escolas públicas estão sem alma." Educação séria, em qualquer lugar do mundo, requer horário integral e professores bem pagos, excluída a famigerada "terceirização", que destrói os vínculos entre os funcionários e os serviços. Em cada escola, autonomia pedagógica, observados parâmetros democraticamente construídos.

A saúde pública também deve basear-se em médicos, enfermeiros e auxiliares concursados, estáveis e decentemente remunerados, encerrando-se a experiência das Organizações de Saúde/OS, uma privatização mascarada, baseada na anarquia salarial e na falta de compromisso dos profissionais com os centros de saúde e os hospitais: "Vamos fazer concurso público, até porque o dinheiro que banca as OS é público e muito." Quanto à habitação popular, critérios rigorosos na efetivação das chamadas "remoções": "A política atual é irresponsável." Em questão, uma "concepção de cidade". O que se quer? Entregar a cidade aos negócios ou às pessoas? Dá para combinar os dois? Dá, mas numa "cidade de direitos". Freixo cita exemplos concretos: "Em Londres, por lei, metade das moradias da Vila Olímpica foi destinada à populaçãode baixa renda. A Vila dos Jogos Pan-Americanos na Barra foi toda jogada para o mercado imobiliário."

Na área dos transportes públicos, "enfrentar o poder das empresas de ônibus, reunidas na Federação dos Transportes (FETRANSPOR)." Os consórcios funcionam como um cartel, impondo tarifas escorchantes, recusando-se a aceitar o bilhete único, praticado, há anos, nas grandes capitais do mundo. Em jogo, o "modelo rodoviário". O atual tem custo alto, polui e inferniza a vida das pessoas. Por que não viabilizar o transporte sobre trilhos? As vans assumiriam uma vocação "complementar", organizando-se licitações individuais, para neutralizar o poder das milícias.

Finalmente, em relação à segurança, é falso dizer que se trata de matéria exclusiva do estado. As milícias fundamentam seu poder em atividades econômicas que se efetuam em territórios determinados. Ora, tais atividades e territórios são - ou deveriam ser - regulados pela autoridade municipal. Haveria um largo campo a ser aí explorado, sempre em parceria com os governos estadual e federal, sem nenhuma conciliação com as milícias.

Selecionei cinco questões essenciais. É clara, em todas elas, a vontade de mudança, respeitando-se os valores democráticos. A marca rebelde contra o marasmo, um sistema exaurido que se repete e se rotiniza à custa das grandes maiorias.

Mas os sinais de rebeldia aparecem principalmente na mobilização e no incentivo à auto-organização das gentes. A recuperação da militância gratuita e espontânea, motivada por valores - políticos e éticos. Cada reunião é um comício. Cada comício surpreende pela afluência das pessoas. Renasce o melhor da tradição democrática brasileira, viva e promissora, em especial na primeira metade dos anos 1980, com destaque para a participação de artistas, meio sumidos nos últimos anos dos embates políticos. Pois eles estão de volta, generosos e solidários. Não seria esta uma indicação de tendências profundas? A sintonia fina entre artista e sociedade?

O exercício de cidadania não vai morrer após a campanha eleitoral. O candidato propõe - "eixocentral da sua política" - a construção de Conselhos de Políticas Públicas e a reanimação das associações de bairros, destinados, em conjunto com os vereadores, a formular e a controlar a aplicação das políticas e das leis, viabilizando uma "outra concepção de governo", distinta do atual troca-troca de favores por votos, onde quase sempre se encobrem interesses escusos. ORio tem tradição rebelde.

Em 1968, houve aqui o movimento estudantil mais atuante, e as maiores passeatas contra a ditadura. Na segunda metade dos anos 1970, a luta pela anistia - ampla, geral e irrestrita. Nas primeiras eleições livres para governadores, em 1982, a vitória de Leonel Brizola - "Brizola na cabeça" - representou desafio à ordem vigente. Ao longo da campanha das Diretas-já, o povonas ruas contribuiu para consolidar o processo de transição democrática. Na sequência, Fernando Gabeira quase foi eleito prefeito da cidade contra ampla coligação de interesses conservadores. Em 1989, nas primeiras eleições diretas para presidente, outros comícios - imensos - por Lula e Brizola. A partir dos anos 1990, porém, no quadro da "administração das coisas", as eleições perderam encanto, cada vez mais dominadas pelo dinheiro e pelo marketeiros.

Não terá chegado a hora de mais uma virada? Retomando tradições críticas que existem notempo longo, enraizadas na cidade?

É verdade que outra candidatura fala de si mesma como "um rio". Pode ser um rio qualquer. Maso Rio rebelde, nas eleições de outubro, além de um programa, tem nome e sobrenome: Marcelo Freixo.





#PrimaveraCarioca

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Não fode nem sai de cima

É líder. Mas enquanto o Fluminense não resolver jogar bola, não dá pra acreditar no tetracampeonato. Do jeito que tá, não rola...


A rodada conspirou em favor da manutenção da liderança, é verdade — há que se lembrar de Nelson Rodrigues, que dizia ser necessário sorte até para se chupar um picolé! *risos* —, mas o desempenho do FLUnimed contra o Atlético-GO foi vergonhoso. Sinal de que não só os times de Cuca travam na hora H...

Verdade que os desfalques são constantes, mas todos os jogadores parecem longe de entregar pelo menos 75% de seus rendimentos nas partidas. Ainda pior quando Valencia fica no banco, dando lugar ao show de horrores do Edinho; o lindo do Sóbis não se encontra em campo; Thiago Neves parece estar vestindo a camisa -10; e  Wallace segue fazendo besteiras proporcionais ao seu talento. Aimeudeus, saudades do gostoso do Deco...

O Flu quando vence, nunca convence. Pode ganhar o título mesmo assim, claro. Mas também pode ficar só na zona de classificação para Libertadores... Ou, quiçá, fora dela.


Saudações Tricolores.