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Fluminense Football Club

Tetracampo Brasileiro
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sábado, 1 de junho de 2013

Não devia... NÃO DEVO.

"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.


A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma".



Fonte: livro 'Eu sei, mas não devia' (esgotado)

Autora: Marina Colassanti
Editora: Rocco

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Bem por aí


É melhor ser feliz do que ter razão.

Será? 

Anacrônica beleza

A TV que tanto amo nunca foi dos meus temas mais constantes. Vai entender!

Talvez, por isso, tenha demorado tanto tempo para descrever algo tão tocante e emocionante pra mim quanto a novela Lado a Lado.

Não tem só aquele lindo do Lárazo Ramos, o talento do Thiago Fragoso, o xodó com a Marjorie Estiano, as interpretações de Patricia Pillar e Milton Gonçalves, ou a belezura da Camila Pitanga. A novela é bela, delicada, instigante, comovente. 

A relevância histórica, as idiossincrasias de um momento de transição, o novo (República e abolição) e o velho (Império e escravidão) em disputa cotidiana; enquanto se inventavam as nossas tradições: o futebol, o morro, o samba e o progressismo até a página 2.

Tudo isso ao som trilha sonora eclética e impactante - aimeudeus... o que são as cenas de Milton Gonçalves e Camila ao som de "O mundo é um moinho" interpretada por Beth Carvalho? Não há uma única vez em que eu não tenha chorado!

A abertura é sublime.


Além disso, a beleza da construção do papel do negro pós-abolição, a busca da mulher pelo seu lugar de fala e a luta ad infinitum contra o racismo estão ali, a cada capítulo. Capítulos bem tratados, bem escritos e dirigidos.

Se não são, tudo isso, motivos suficientes para me apaixonar como me apaixonei... é coisa de pele.

É uma pena, enfim, que já esteja acabando. Mas como toda novela, admito, tem horas que fica chata... *risos*

Um beijo, um abraço ou aperto de mão,
Babi

domingo, 24 de fevereiro de 2013

½ pop... ½ mainstream... 1 Babi

♪Perdida
Na avenida
Canta seu enredo
Fora do carnaval
Perdeu a saia
Perdeu o emprego
Desfila natural

Esquinas
Mil buzinas
Imagina orquestras
Samba no chafariz
Viva a folia
A dor não presta
Felicidade, sim

Dom, 24.02.2013 - 14 horas


O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas



Bambeia
Cambaleia
É dura na queda
Custa a cair em si
Largou família
Bebeu veneno
E vai morrer de rir

Vagueia
Devaneia
Já apanhou à beça
Mas para quem sabe olhar
A flor também é
Ferida aberta
E não se vê chorar♫


Dura na Queda - Chico Buarque


domingo, 17 de fevereiro de 2013

Cozinha é casa

Natal não conta, pois é impossível fugir — e querer fugir — de rabanadas, carne de porco (costela com barbecue e batatas noisettes, no último ano), farofa e docinhos deliciosos...

Mas desde a pizza caseira e cupcakes que terminaram no lixo e no vômito, eu não ia a cozinha exercitar minhas habilidades culinárias... Para criar uma receita então, nem-pen-sar! Mas um domingo e uma TPM daquelas tudo curam. *risos*

Em homenagem, o bloguito inaugura uma nova sessão: Na Mesa, com meu menu restrito e delicioso. E, de vez em quando, até, quem sabe, umas coisinhas saborosas que a vida me servir.

 Torta Suíça



O post de estreia sugere, então, que se guarde 10 gemas na geladeira; elas podem servir para pincelar diversos empadões e empadinhas ou virar um belo e amarelo quindim. Pois as claras são batidas em velocidade baixa na batedeira, com uma pitadinha de sal  pra ficarem bem firmes —, até quase extrapolarem da vasilha.

Enquanto isso, ou antes disso, penere ¾ de xícara+ 1 colher de sobremesa de açúcar, 1 xícara+2 colheres de sopa de chocolate (melhor que seja o que tem os frades na caixinha! *risos*) e 2 colheres, uma de chá e outra de sobremesa, de farinha de trigo.

Com muita calma, delicadeza e um fouet, junte os pózinhos misturados e peneirados às gigantes claras em neve. A ideia é mexer até que fique marronzinho, nada de bater demais — não se trata de um bolo normal!

Essa massa marronzinha será depositada em duas formas com papel manteiga and  manteiga. Untar com manteiga e farinha vai deixar a massa esbranquiçada, o que não ajuda no visual craquelado e rústico dessa delicia. Depois, forno pré-aquecido entre 180º e 200º graus.

Ah, o ponto: casquinha crocante e craquelada, úmida por dentro... Hum!

O recheio é uma generosa e saborosa porção de chantly. Pode ser caseiro, claro (só levar à batedeira 500g de creme de leite fresco e bem gelado e 50g de açúcar em ritmo frenético). Porém, acho que as opções semi-prontas dão conta do recado.

Como miséria é bobagem, a cobertura é um ganache. Aposto num mix de 150g de chocolate amargo e ao leite derretido numa caixinha de creme de leite — salivando...   

Temos, assim, uma deliciosa Torta Suíça. Que, com os toques da casa, claro, é retangular. hehehe!




Voilà!
Babi

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Notinhas

Querendo colo.
Com vontade do mar e necessidade de olhar o céu.
Escutar boa música devorando um pote de sorvete infinito.
Ficar parada sob o chuvisco, semi-protegida por um abraço forte.
Deitar na rede, sacudindo de levinho, com direito a um monte de beijos no umbigo. 
Dormir quieta, um sono sem sonhos, no aconchego da tranquilidade anterior e da esperança no amanhecer.

sábado, 5 de janeiro de 2013

É + ou - isso...

ESTE É UM país sui generis.
As putas gozam
Os cafifas se apaixonam
Os valentões apanham
Os ministros cantam e
As ministras dão.
Os machões também.
Os ladrões prendem
A polícia assalta
Os patrões fazem greve
Os ateus rezam
Os padres praguejam
Os catedráticos não lêem
Os analfabetos escrevem
Os banqueiros choram
Os mendigos dão esmola
Os gatos latem
Os cachorros miam
Os peixes se afogam
As frutas mordem
As formigas dão leite
As vacas põem ovos
As galinhas têm dentes

Então,
Quer parar
De me cobrar
Coerência
Pô!

SUI GENERIS - Mano Melo (O Lavrador de Palavras, 1999)