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domingo, 11 de setembro de 2011

Você tem medo de quê? Ou lembre-se do 11 de setembro com Ken Loach.


Em dez anos os Estados Unidos tentaram nos ensinar temer aquilo que eles temem.

O Outro deles tornou-se o Outro de todos. O muçulmano, o fundamentalista, o terrorista... Depois dos nazistas, dos comunistas, dos genocidas, nosso inimigo comum é mais difuso e complexo: não ocidental e anti-democrático. Os atentados de 11 de setembro de 2001 permitiram que experimentássemos o etnocentrismo em escala global.

As guerras contra o Afeganistão e o Iraque não foram somente para restauração do sistema internacional, mas para libertação e democratização do mundo muçulmano. Os EUA gastaram muito mais de US$ 1 trilhão e foram muito menos eficientes e apreciados que a "Primavera Árabe".

As lembranças desse dia, parece oportuno recorrer a Habermas e a Derrida:


"A ideologia explícita dos terroristas que atacaram as Torres Gêmeas e o Pentágono em 11 de setembro é uma rejeição do tipo de modernidade e secularização que, na tradição filosófica, está associada ao conceito de Iluminismo. Em filosofia, o Iluminismo descreve não só um período específico, que coincide historicamente com o século XVIII, mas também a afirmação da democracia e a separação entre poder político e crença religiosa, valores que constituíram o centro da Revolução Francesa e da Guerra de Independência norte-americana.[...]

Enquanto, para Habermas, a razão entendida como uma possibilidade de comunicação transparente e não manipuladora, pode curar os males da modernização, entre eles fundamentalismo e terrorismo, para Derrida essas forças destrutivas podem ser detectadas e nomeadas, mas não totalmente controladas ou conquistadas. Se, para Habermas, os agentes patológicos são fruto da velocidade com a qual a modernização se impôs e da reação defensiva que ele provocou por parte dos modos tradicionais de vida, para Derrida a reação defensiva vem da própria modernidade. O terrorismo é, para ele, o sintoma de uma desordem auto-imune que ameaça a vida da democracia participativa, o sistema legal que a embasa e a possibilidade de uma separação nítida entre as dimensões religiosas e secular.[...]

A tese que Derrida defende, no diálogo, é de que o tipo de terrorismo global subjacente aos ataques de 11 de setembro não é o primeiro sintoma da crise auto-imune, mas apenas sua manifestação mais recente.[...] O terrorismo é o sintoma de um elemento traumático intrínseco  à experiência moderna, cujo foco está sempre no futuro, de certo modo entendido patologicamente como promessa, esperança e auto-afirmação.[...]

Os chamados 'terroristas' não são nesse contexto 'outros'; outros absolutos que nós, 'ocidentais', não conseguimos mais entender. Não devemos esquecer que eles foram freqüentemente recrutados, treinados e até armados; e, por um longo tempo, de várias maneiras ocidentais, isso foi feito por um mundo ocidental que, em si, no curso de sua história antiga, bem como da mais recente, inventou a palavra, as técnicas e a 'política' do 'terrorismo'."
BORRADORI, Giovanna. Filosofia em tempo de terror. Diálogos com Habermas e Derrida. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2004.

Em dez anos faltou, talvez, que se lembrassem que o terrorismo internacional não foi invenção da barbárie, do retrocesso. De que forma os EUA contribuíram, e também nós, para esses eventos?

A reflexão rasa oculta a resposta - ou respostas. A culpa é deles, dos Outros. A mesma reflexão rasa que nos faz esquecer de outro 11 de setembro, ainda mais sombrio e antigo.



Por que nos esquecemos do Chile em 1973?




*Publicado originalmente no blog Repete, professora?

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