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Fluminense Football Club

Tetracampo Brasileiro
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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Dessa vez me tocou

Ando numa fase difícil de pensar noutra coisa: "... o Fluminense me domina, eu tenho amor ao Tricolor". Parece samba de uma nota só. Mas, sabe como é, foram anos de sofrimento e espera - ficamos todos assim, meio bobos. Aí, nessas em que tudo me remete ao Nense, dou de cara com a coluna do Pedro Bial no jornal O GLOBO ["Carta ao Pai", Esportes, 08.12.2010, p.3].

Eu não sou uma grande fã do Bial, confesso. Acho que ele tem uma grandiloquência supervalorizada, é verborrágico... não que não seja um jornalista competente. (E quem sou eu para julgar?!) Mas alguns discursos de paredão de BBB e crônicas não me arrebatam, simplesmente.

Enfim, na tal coluna do jornal ele conseguiu me emocionar. Tocou em alguns pontos nevrálgicos, creio eu, aos tricolores todos; foi muito feliz ao reconhecer que nosso elitismo não é socioeconômico. Pessoalmente, o texto me emocionou com "a pegada" familiar.

Poucas coisas no mundo são bonitas para mim que famílias de torcedores em estádios de futebol. E digo mais: famílias em que todos torcem para o mesmo time. Ei, as mistas também são, é melhor deixar claro! Quem sou para disseminar a eugenia... cruzes.

Infelizmente, não descendo de uma Dinastia Tricolor, apenas meu (tio-) avô torce pelo Flu. Vivo cercada por muitos Flamenguistas, inclusive meu pai - mas esse curte mais F1 que qualquer outro esporte -, e alguns Botafoguenses. Na verdade, acho até que eu sou mais interessada em futebol que todos eles.*risos*

De qualquer forma, taí um sonho bonito: uma Dinastia Tricolor. Compartilhar em família as a emoção dos títulos, a euforia dos gols, as incertezas dos maus momentos e as angústias das derrotas. Sacralizar os momentos diante da tv vendo a bola rolar e dar a ida aos estádios ares de solenidades íntimas. 

Compartilho o texto do Pedro Bial. É tocante.

Pedro Bial

Carta ao Pai

Publicada em 08/12/2010 às 07h52m


Somou-se agonia à aflição, meu pai, quando não te vi no estádio. Nos grandes momentos do Fluminense, você nunca falta, faz-se sempre presente, sempre ao lado de Nelson, ectoplasmas bonachões, ora atrás do gol, ora na tribuna da imprensa, ora sentados nas marquises, com as pernas balançando relaxadas sobre o abismo - os mortos não correm risco de vida. Mas, naquele Engenhão iluminado, incendiado pelo grená, verde e branco, naquela festa como só a melhor torcida do mundo sabe fazer, procurei em todo canto, não te encontrei. E olha que o único caminho fácil até o Engenhão é descer pela escadaria de nuvens. O jogo começou, e não tinha encontrado você. Me senti mais órfão do que sempre.
E foi o que nunca se viu: a torcida parecia mais calma e paciente do que o time. Nossos guerreiros moviam-se como nervos crispados pelo gramado, o Guarani se agigantava, parecia um Barcelona moral, movido pela mais poderosa das "malas brancas", a dignidade. O Fluminense, fidalgo, honrado, todas as garras afiadas, toda a garra, a determinação, a organização admirável que tem nome: Muricy Ramalho. Nem assim. Não saía o gol, e mais, o gol se recusava a sair. Depois, entendi: tínhamos tornado a ocasião solene demais, o gol tornara-se totem, quase tabu. Futebol só é solene até o apito inicial, depois mesmo decisão de Copa do Mundo tem de ser jogada com a alegria e a irreverência que se bate uma pelada. O Fluminense, no primeiro tempo, tornara-se prisioneiro da solenidade da ocasião.
E me faltava você, pai. Muricy ocupava a posição de figura paterna para todos os tricolores, com sobras de mérito e dom. Extraordinário ser humano, de inteligência refinada e aplicada, este ano deu aula de futebol e ética ao Brasil. Não sei se Telê te contou o que aprontou com seu mais dileto discípulo na véspera da decisão. Apareceu em sonho, "sorridente e vivinho", para a benção definitiva e consagradora. Benção que ficou adormecida no inconsciente de Muricy até o fim da tremenda peleja, quando ao mirar um torcedor fantasiado de papa, lembrou: "Sonhei com Telê!". Vocês devem estar dando risada até agora, entre goles de néctar e tascos de ambrosia...
Mas me faltava você, pai. Como acontece no futebol, quando o resultado não nos agrada, o tempo voava e eu não conseguia localizar você. Ai, ai, ai, gemiam minhas tripas, porém minha boca não emitia som. Mudo, via a beleza da luta entre o desespero e a esperança.
Na arrancada final para o título, Ricardo Berna encarnou Félix, o "Papel"; Mariano despontou para o futuro do futebol brasileiro; os olhos tristes de Gum fabricaram alegria; Leandro Euzébio fez em um ano a transição entre o anonimato e a glória; Carlinhos, bom, de Carlinhos falo depois...
Na sua ausência, pai, fiquei imaginando que jogadores te agradariam e com quais implicaria. Sim, pois você sempre teve aqueles que amava odiar. Neste time, certamente você entraria em rota de colisão com seus netos e maldiria Diguinho, que os garotos adoram pelo estilo malandro. Você teria queimado a língua na partida final, depois de criticar à exaustão Valencia e vê-lo ser o melhor da equipe no primeiro tempo.
Claro que amaríamos juntos o melhor jogador do Brasil, Conca, Conquita, amigo de seu neto Theo. Se o nome de batismo do título de 2010 é Muricy, o sobrenome é Conca. Quanto mais alto voa, mais humilde se curva e agradece. Só os grandes, os maiores, fazem isso. Isso não se ensina, nasce-se assim.
Júlio César, o operário em construção, estourou de tanta tensão - tinha que ser desse jeito, para que Washington entrasse e escrevesse uma palavra crucial na história da conquista.
Pois, a esta altura, sem enxergar você e Nelson, já tinha certeza: nada estava escrito. Cada letra da História se desenhava no minuto urgente, rabiscada no ar, riscada na grama, aos garranchos; os profetas não ousavam sussurrar.
Só a torcida parecia vislumbrar o futuro, clarividente de paixão, sem esmorecer ou duvidar um só segundo. Entre tantas glórias, orgulhos, vergonhas e sacrifícios, o que faz o Fluminense ser único, ímpar, diferente de todos, é sua torcida. Charmosa, elegante, rica de caráter e repleta de favelados e desdentados. Ao envergar o uniforme tricolor, tornamo-nos todos aristocratas, na segunda acepção do termo: "aquele que tem atitudes nobres, distintas". Sim, somos elite, "o que há mais de mais valorizado e de melhor qualidade", os eleitos! Porém, nem todos os verbetes de dicionários poderiam explicar o que tomou conta dos quarenta mil tricolores, contando só os vivos, presentes ao Engenhão, no domingo, 5 de dezembro de 2010. Quando a partida engastalhou, a massa tricolor desfez o nó.
Aproximava-se o intervalo, eu olhava minha filha biológica mais velha, espiava meu caçula, um de cada lado - o filho adolescente estava na arquibancada com os amigos - e continuava a procurar você, pai. E nada. Pensava que você seria um apaixonado pelo brilhante Emerson, como eu, e que entenderia a autoridade de Fred, a necessidade de sua presença em campo, como um condão motivador que faz todo o time ganhar confiança e coragem. E, claro, como eu, você teria um xodó todo especial por Fernando Bob, garoto maduro, pronto para o porvir. Sem esquecer de Tartá, outra paixão...
No intervalo, saí do camarote. Vaguei a te procurar, meu pai. Nada.
Será possível? Será que fiquei cego? Será que não vejo mais gente morta? Será que acabou o pacto sobrenatural firmado e selado pelo amor ao tricolor? Será possível?
Você acharia Carlinhos um jogador talvez irresponsável. Pois foi a certa inconsequência que sempre me agradou nele. Joga qualquer jogo como se estivesse batendo uma bolinha no Aterro. Portanto, só poderia começar com ele a jogada. Perdeu a bola, insistiu, recuperou o lance, cruzou. Nesse instante, o tempo parou, para que o improvável acontecesse, mais de uma vez. Washington consegue, num reflexo de rapidez impossível, ou melhor, improvável, desviar a bola, com um roçar de cabeça. Caprichosamente, a pelota ainda esbarra na mão do zagueiro. Com o marcador colado, Emerson emenda de primeira. A bola bate em cima da lesão no tornozelo inchado, furado de agulhas das injeções de analgésicos, passa por baixo das pernas do beque, debaixo das pernas do goleiro. A bola quis entrar, o gol se autodecretou, contrariando todas as probabilidades.
Um de cada lado, minha filha e meu filho me abraçam, aos beijos, e eu desabo em prantos. Só aí, só então, entendo por que não te vi, pai. Porque você estava dentro de mim, eu era você, eram suas lágrimas que caíam de meus olhos, era sua euforia que me prostrava. E, liberto por meu pranto, lá se foi você, meu pai, dar a volta olímpica com Nelson, antes de subir de novo, renovado, depressinha para coroar o Campeão Brasileiro de 2010, com o nome certo.
Está lá, no Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa: Flume, flúmen: do latim "massa de água que corre, rio, curso de água; quantidade de lágrimas, de pessoas, etc; abundância, riqueza (de estilo)". Fluminense; "relativo a rio, a curso de água, emprega-se principalmente em relação à cidade do Rio de Janeiro".
Neste 2010 histórico para o Rio de Janeiro, não poderia ter sido outro o campeão, não é, pai?
P.S.: Nosso TRI, sacramentado pela justiça dos deuses, será reconhecido pela justiça dos homens, em janeiro. A fonte é quente. 

P.S. Esse é o festival de Vai-e-Vem mais sem graça do futebol Tricolor. Por mim só viriam os reforços - pq não montar dois times para as três competições de 2011? -, não haveria "barca". E o Time de Guerreiros seria integralmente preservado; seria um Museu Vivo do Futebol, sei lá! 
Acho que me apeguei demais a esses jogadores... a vinda de Souza, Cavalieri e cia. não me empolgam.

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